7 de outubro de 2014

À volta de uma fogueira

  Foi já sentado no avião, enquanto decorria o longo tempo da viagem, que me surgiram os
primeiros pensamentos de como viveria esta missão.


De forma a conhecermos melhor a Missão de Caungula estivemos em três comunidades diferentes: Dipanga, Caungula e Cuilo. No entanto, a comunidade que mais me marcou foi a de Dipanga, uma aldeia no meio do mato, onde era notória a pobreza…e a alegria dos seus habitantes! 

Depois de uma viagem feita debaixo de pó e de um sol perturbador, foi maravilhoso sentir o conforto de uma receção digna de Reis. As crianças correram até ao jipe acompanhando-nos até ao centro da aldeia onde os mais jovens nos receberam com cânticos e os mais velhos nos saudaram cordialmente. A alegria dos seus rostos logo me contagiou e comecei a admirar e a saborear as suas tradições.


Fomos encaminhados para a casa da Missão, uma casa em “pau-a-pique” e capim, mas muito aconchegante e confortável. Na frente da casa, haviam colocado um arco feito de verdes e flores.

O dia começava cedo, com a celebração da eucaristia, e só depois se iniciavam os trabalhos com a comunidade. 

O nosso trabalho centrou-se nos problemas daquelas pessoas: álcool, droga, desrespeito pela mulher e pelos mais velhos. 

A Irmã Quintinha, fez alguns atendimentos na área da saúde. A medicação… provinha da vegetação natural! Com uma sopa comunitária, foi possível explicar o valor nutritivo de bastantes alimentos. 

Foi iniciada uma horta na Missão com o cultivo de alguns legumes, aproveitando para
exemplificar como podiam aproveitar vários tipos de sementes, nos anos seguintes.

Estávamos numa aldeia onde não havia electricidade nem rede de água. Contudo, desde logo percebi que era possível ser feliz ali. Fiquei surpreendido com a imaginação e capacidade de recriação das crianças. Apesar de não terem acesso a brinquedos, jogos ou instrumentos musicais, foram muitos os que vi, recreados por eles próprios, a partir de objetos apanhados no lixo. Foi fascinante vermos como estas coisas simples conseguem provocar tanta felicidade nas crianças. 

Marcante, era o acender de uma fogueira, todos os dias, em frente à casa da Missão, à volta da qual se cantava ao som dos batuques, os jovens dançavam e as crianças divertiam-se. Não era a ausência de eletricidade que condicionava a alegria e o convívio daqueles jovens. 

Esta foi, para mim, uma “Missão” de aprendizagem pessoal. Tenho a certeza que trouxe uma mochila cheia de boas vivências e muitos rostos e gestos.

Davide Duarte


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